A pedido dos proprietários, diálogo com funcionários abordou a violência contra as mulheres e as políticas públicas de atendimento no Município
Uma tentativa de feminicídio chocou a cidade de Araraquara no dia 18 de março, quando uma adolescente de 17 anos foi baleada na cabeça em um restaurante na Vila Furlan. O suspeito é um jovem, também de 17 anos, que foi apreendido e confessou o crime. Nesta segunda-feira (15), a equipe do Centro de Referência da Mulher “Professora Doutora Heleieth Saffioti” realizou uma roda de conversa com os funcionários do estabelecimento. A atividade foi conduzida pela coordenadora de Políticas para Mulheres da Prefeitura, Grasiela Lima, e pela gerente do Centro de Referência da Mulher, Laís de Conte.
Grasiela Lima explicou que a tentativa de feminicídio deixou os funcionários e funcionárias do local extremamente chocados com o ato de violência. “Em uma iniciativa louvável por parte dos proprietários, que nos fizeram um convite para uma roda de conversa no próprio restaurante sobre violência contra as mulheres e as políticas públicas de atendimento no nosso município, pudemos realizar uma importante ação de conscientização através do diálogo, promovendo informações importantes sobre o grave problema da violência contra as mulheres, a legislação pertinente e os serviços de atendimento em nossa cidade”, comentou a coordenadora.
Outro ponto importante a ser destacado no trabalho desenvolvido pelo CRM, nos casos de tentativas de feminicídio, é o atendimento às vítimas. “Nesse sentido, já realizamos o acolhimento e iniciamos o atendimento à adolescente de 17 anos, buscando auxiliar a família nas diferentes demandas do tratamento pós alta hospitalar”, acrescentou Grasiela, que inclusive fez uma visita à jovem no hospital.
A coordenadora aponta que os casos de violência contra as mulheres têm aumentado substancialmente nos últimos anos, apesar das lutas e conquistas em relação à legislação e às políticas públicas, assim como às campanhas de conscientização e sensibilização. “Isso nos faz pensar que a naturalização dessas violências praticadas contra as mulheres, cotidianamente, estão cada vez mais naturalizadas na sociedade e que o trabalho de enfrentamento deve ser potencializado, especialmente levando-se em consideração o combate às suas raízes culturais machistas e misóginas”, explicou.
Vale salientar que, nesse contexto, no ano de 2023 o Brasil bateu recorde de feminicídio com 1.463 registros oficiais. “Trata-se do caso mais extremo de violência de gênero e acontece depois que todas as outras formas de violência já foram cometidas. Assim, a Lei N. 13.104/2015 torna o feminicídio e a tentativa de feminicídio um homicídio qualificado e os coloca na lista de crimes hediondos com penas de 12 a 30 anos. Contudo, a frieza dos números recordes de feminicídio e de tentativa de feminicídio no Brasil, por vezes, esconde o drama por trás da vida ceifada de cada uma de suas vítimas. Assim, a tentativa de feminicídio cometido recentemente contra uma adolescente de 17 anos em Araraquara traz à tona várias questões como a responsabilidade da sociedade e do Estado no cumprimento de suas obrigações na proteção das mulheres e na promoção de seus direitos, como destaca a ONU em seus documentos”, completou Grasiela.
Andressa Buzolin, gerente do restaurante, falou sobre a importância da atividade. “Em nossa palestra, vimos o quanto na nossa sociedade mulheres sofrem violência de gênero – sexual, psicológica, moral, física, doméstica – e até que lhe seja tirada a vida. Diante do exposto, percebemos a importância de orientar e acolher nossas colaboradoras para que entendam de forma clara o que é o feminicídio. Dessa forma, é preciso ter uma melhor qualificação na investigação policial, no processo judicial e até mesmo no julgamento desses crimes”, frisou.
Halissa Mastriani, que é proprietária do restaurante junto com Gustavo dos Santos, também falou sobre o tema. “O feminicídio aumenta cada vez mais na nossa sociedade e nunca dá para saber se estamos imunes a ele. Por isso, é necessário ficarmos juntas e sermos o apoio e força uma das outras, pois só assim seremos mais fortes e poderemos enfrentar isso. Como empresa, penso que é muito importante abranger o assunto, pois muitas mulheres não se sentem seguras a se abrir e pedir ajuda, por isso apoiamos essa causa para que os números de mulheres e famílias afetadas com o feminicídio diminuam”, reforçou.