Vandalismo em São Carlos é ferida aberta no patrimônio e no convívio urbano

FOTOS: Reprodução do São Carlos no Toque
A cidade de São Carlos amanheceu ferida. Mais uma vez, atos de vandalismo marcaram diversos pontos públicos do município, trazendo indignação à população e evidenciando a fragilidade da nossa convivência social e do zelo pelo espaço coletivo. Entre os alvos, um deles chama atenção pelo simbolismo: a estátua do Conde do Pinhal, figura histórica central na fundação e no desenvolvimento de São Carlos, foi pichada na região central da cidade. Um ataque não apenas ao patrimônio físico, mas à própria identidade cultural da cidade.
Além da estátua, pichações foram registradas no ponto de ônibus da Praça Coronel Salles — um dos espaços mais tradicionais de circulação de pedestres —, em muros da mesma praça e até em semáforos da Avenida São Carlos, entre as ruas Major José Inácio e Padre Teixeira. Nesses últimos, símbolos do comunismo foram pichados em spray, trazendo à tona um debate ainda mais complexo: o uso do espaço público como palco de radicalismos ideológicos sem diálogo, sem contexto e sem respeito.
O vandalismo, infelizmente, não é novidade. Trata-se de uma agressão silenciosa que ocorre, em grande parte, durante a madrugada, quando a sensação de ausência do Estado parece se instalar. Os moradores pedem mais segurança, mais vigilância, mais ação. E com razão. A depredação do espaço público não é apenas um transtorno estético. Ela gera gastos aos cofres públicos, degrada a paisagem urbana e ameaça a memória histórica.
A Prefeitura de São Carlos, por meio da Fundação Pró-Memória, informou que vai contratar uma empresa especializada para iniciar, já amanhã, a limpeza e recuperação da estátua, incluindo também a placa danificada. A Fundação está registrando um boletim de ocorrência, uma vez que outros pontos da cidade — como os pontos de ônibus — também foram alvos de pichações. Caberá agora à Polícia Civil conduzir a investigação e identificar os responsáveis pelos crimes.
O Brasil, aliás, parece viver um tempo em que símbolos públicos estão sob ataque constante — às vezes por ignorância, às vezes por provocação. Basta lembrar do recente episódio em Brasília, onde uma mulher, em plena luz do dia, subiu na estátua da Justiça, em frente ao Supremo Tribunal Federal, e a manchou com batom vermelho. Um gesto que, embora travestido de protesto, não passa de mais uma expressão de desrespeito ao patrimônio coletivo e à institucionalidade do país.
É preciso ir além da resposta imediata — que deve existir, sim, com investigação, responsabilização e restauração dos danos. O que está em jogo é uma cultura de desrespeito à coisa pública. É urgente que se promova a valorização do espaço comum e da educação cidadã. Não se trata apenas de fiscalizar, mas de conscientizar.
Pichar uma estátua histórica ou símbolos do mobiliário urbano não é um ato de protesto legítimo. É covardia anônima. É agressão gratuita. É recado errado enviado de forma errada. E, mais do que nunca, São Carlos — cidade de ciência, cultura e inovação — precisa reagir com inteligência, rigor e união.
A cidade pertence a todos, mas também exige responsabilidade de cada um. Sem isso, qualquer espaço público está condenado a ser apenas cenário para o próximo ato de barbárie.





