Delegados detalham operação que levou à prisão de suspeitos por assassinato de casal em São Pedro

A Polícia Civil concedeu na tarde desta terça-feira, 17, uma coletiva de imprensa em Piracicaba para apresentar os resultados da operação “Jogo Duplo”, que prendeu quatro suspeitos de envolvimento na morte de um casal de idosos em São Pedro (SP). A delegada Juliana Ricci (Deic), o diretor do Deinter-9, Kleber Altale, e o delegado divisionário William Marchi conduziram o detalhamento do caso que chocou o interior paulista.
A operação cumpriu quatro mandados de prisão temporária e cinco de busca e apreensão em endereços de São Carlos e do litoral paulista. Os presos são dois advogados, apontados como mandantes, e dois homens acusados de executar o crime. “Hoje foi dado início à nossa operação, que culminou com a prisão dos quatro alvos investigados. Eles estavam envolvidos em um crime de extrema crueldade”, declarou Altale na abertura. “Os corpos das vítimas foram encontrados no dia 6 de abril, dentro de seus veículos, na garagem da própria chácara, em São Pedro”, acrescentou.
Segundo a delegada Juliana Ricci, o crime ocorreu dois dias antes, em 4 de abril. As investigações revelam que as vítimas haviam transferido seus bens aos advogados por meio de contratos de dação em pagamento, sob alegação de quitação de honorários advocatícios. O valor envolvido supera R$ 15 milhões, incluindo imóveis e depósitos bancários.
“O que identificamos foi uma sequência de fraudes. Os advogados criaram uma holding com as vítimas para blindar o patrimônio contra credores. Com o tempo, os bens foram todos transferidos aos investigados, que passaram a agir como verdadeiros donos”, afirmou Ricci. “No final de março, a Justiça reconheceu a legalidade dessas transferências. Poucos dias depois, o casal foi assassinado”, contou.
A delegada destacou que as vítimas não tinham filhos nem pais vivos, o que teria motivado os investigados a arquitetar o assassinato como forma de garantir posse definitiva dos bens. “A morte encerraria qualquer contestação”, disse.
A execução, no entanto, teve falhas. Os corpos foram deixados na garagem da chácara, e o portão da propriedade, esquecido aberto, chamou a atenção de um vizinho. “Eles conheciam bem o local. Se tivessem fechado o portão, os corpos só seriam descobertos dias depois”, explicou Ricci.
A polícia também descobriu que o homicídio ocorreu em outra propriedade das vítimas, que havia sido registrada no nome dos advogados como parte da blindagem patrimonial. “A intenção era ocultar o local real do crime, para evitar qualquer associação com os investigados. Mas a estratégia falhou”, relatou o delegado William Marchi.
Durante a coletiva, os delegados destacaram o trabalho integrado de inteligência, com uso de tecnologia, análise de contratos, quebras de sigilo e rastreamento de veículos. Uma das linhas da investigação se apoia em telemetria de carros usados pelos executores.
Armas foram apreendidas na casa dos advogados, mas ainda não há confirmação se alguma delas foi usada no crime. “Não havia armamento no escritório e tampouco os corpos estavam carbonizados, como foi divulgado erroneamente por alguns veículos”, esclareceu Ricci.
A investigação ainda busca identificar pelo menos dois outros suspeitos de envolvimento na execução. Marchi afirma que há indícios da participação de até quatro executores na cena do crime. “Trata-se de um grupo bem estruturado, com divisão clara entre mandantes e executores.”
Questionados sobre possíveis pagamentos aos matadores, os delegados optaram por manter sigilo. “Esse ponto ainda está sendo apurado e é estratégico para a continuidade das investigações”, disse Marchi.
Todos os presos permanecem em silêncio por orientação de seus advogados. O inquérito, que já soma 380 páginas, teve suas primeiras medidas adotadas em abril, logo após a descoberta dos corpos. A Justiça também determinou o sequestro de bens e o bloqueio das contas bancárias dos investigados.
“Agora é reunir o máximo de provas, cruzar os dados apreendidos e identificar novos elementos. A investigação está em curso e outras prisões podem ocorrer”, concluiu Juliana Ricci.








