
Na manhã desta sexta-feira (27), o vice-prefeito de São Carlos, Roselei Françoso (MDB), concedeu uma entrevista exclusiva ao programa Primeira Página no Ar, da São Carlos FM [107.9]. Roselei falou abertamente sobre sua saída da Secretaria Municipal de Educação, as dificuldades da função, a nomeação do novo secretário, Lucas Leão, os atrasos na entrega dos uniformes escolares e um grave episódio de racismo ocorrido durante formação pedagógica. Ainda houve tempo para abordar bastidores da política regional e avaliar os primeiros meses da atual gestão.
“Me senti falhando. E pedi pra sair.”
Em tom sincero, Roselei explicou que sua saída do comando da Educação não se deu por desgaste político, mas por um conflito permanente de agenda entre as obrigações da vice-prefeitura e as demandas da rede de ensino. “Eu reagendava compromissos cinco vezes com escolas. Educação precisa de presença. Eu tenho história com a rede, e não conseguia mais corresponder.”
Apesar de constar como “exoneração” no Diário Oficial, Roselei afirmou que a decisão foi consensual, tomada em conversa com o prefeito Netto Donato (PP). “Aquela foto sorrindo era por causa de uma piada do Palmeiras, e não um grito de liberdade, como insinuaram”, comentou com bom humor.
Sobre o novo secretário, Lucas Leão, Roselei reconheceu que a escolha causou surpresa por ele não ter vínculo direto com a área educacional, mas destacou sua experiência administrativa e o apoio técnico interno. “Lucas é da confiança pessoal do prefeito, é um excelente advogado e já comandou pastas importantes. A rede é quase toda composta por servidores de carreira — isso dá estabilidade e continuidade.”
Uniformes: quase toda a rede recebeu, mas logística e números travam final da entrega
O vice-prefeito revelou que 95% dos uniformes escolares já foram entregues, mas as dificuldades persistem devido à separação por numeração e ao ritmo da empresa fornecedora, contratada via pregão eletrônico. “Tem uniforme no almoxarifado esperando separação. Pedi às diretoras para entregar o que já está disponível, porque não faz sentido deixar criança com frio.”
Segundo ele, as compras foram planejadas para evitar estoque excedente, e os kits estão sendo complementados com apoio de equipes terceirizadas. A expectativa é concluir a entrega antes do recesso escolar.
Crise orçamentária: menos R$ 66 milhões em arrecadação
Roselei alertou para a queda significativa na receita municipal — R$ 66 milhões a menos em comparação com o ano anterior — e defendeu cautela nos gastos. “Se a gente entrega tudo agora, pode ficar insolvente depois. Estamos organizando a casa e buscando recursos extraorçamentários para realizar os grandes projetos.”
Segundo ele, o foco do governo é garantir a capacidade de investimento e preservar compromissos essenciais, como o pagamento do INSS e contratos estratégicos.
Nota 9 para a gestão — e articulações políticas em Brasília
Ao ser provocado a dar uma nota de 0 a 10 para a gestão Neto & Roselei, o vice-prefeito respondeu: “Se for pela entrega, daria 9. Pela vontade e empenho do governo, é 10. Estamos trabalhando com seriedade desde o primeiro dia.”
Ele destacou as articulações com deputados e ministérios, especialmente em busca de recursos para obras de drenagem urbana, principal compromisso de campanha da dupla.
Política local: visita de Nino Mengatti e reconciliações
Roselei comentou ainda sobre a visita de Nino Mengatti, ex-secretário do governo Airton Garcia, à prefeitura. Disse que os dois já estiveram em lados opostos, mas hoje mantêm relação cordial. “Ele me visitou, me deu um abraço. Tivemos divergências no passado, mas a eleição já passou. Conversamos como seres humanos.”
Segundo Roselei, Nino está filiado ao Solidariedade e voltou a ter domicílio eleitoral em Araraquara.
Caso de racismo durante formação será apurado com rigor
Roselei também comentou o episódio ocorrido durante uma formação pedagógica na USP, cujo tema era “Capoeira na Educação Infantil”. Segundo relatos, uma professora teria interrompido a atividade com falas racistas. “Foi lamentável. A rede está triste. Já determinei a abertura de processo administrativo para apurar o caso com todo rigor. Em São Carlos, racismo não será tolerado.”
O caso teve forte repercussão nas redes sociais e foi denunciado por movimentos coletivos. A prefeitura solicitou os vídeos do evento e relatórios das equipes de formação.
Presente em todas as frentes
Com a sua saída da Educação, Roselei garante que seguirá próximo ao prefeito, atuando em diversas frentes, como os debates sobre o Plano Diretor, o Plano de Mobilidade Urbana e o desenvolvimento econômico. “Agora estou mais livre para circular por todas as secretarias e ajudar o prefeito em pautas estratégicas para a cidade.”
Na despedida, Roselei agradeceu a São Carlos FM e se colocou à disposição para voltar mais vezes. “Vida pública tem que ser vivida com transparência. Não tenho reservas, estou sempre disposto a conversar com a população e prestar contas”, finalizou.