A trajetória da Professora Doutora Maria Alice Zacarias, chefe da Sessão de Educação de Jovens e Adultos (EJA) da Prefeitura de São Carlos, é um exemplo vivo de superação e de transformação pela educação. Em entrevista ao programa Primeira Página no Ar, da São Carlos FM 107,9, na manhã desta terça-feira (11), ela contou como saiu da roça, enfrentou o preconceito e a pobreza, cortou cana e hoje é uma das principais articuladoras regionais do Ministério da Educação (MEC) na defesa da alfabetização de jovens e adultos.
“É uma mistura de sentimentos, porque saí de um contexto muito dificultoso, de muita luta. E ainda é uma luta que parece não ter fim. Em São Carlos, temos cerca de 5 mil pessoas não alfabetizadas. É um trabalho que precisa ser visto, valorizado, e que essas pessoas tenham garantido o direito à educação”, destacou.
Dos canaviais à universidade
Filha de trabalhadores rurais, Maria Alice contou que ouviu muitos “nãos” ao longo do caminho. Quando ainda cortava cana, era desacreditada pelos colegas por sonhar em estudar. “Diziam que eu seria uma ‘Doutora dos Canaviais’, que não conseguiria. Isso me deu força para provar que era possível”, recordou.
Mesmo após conquistar o título de doutora, ela afirma que o preconceito racial ainda é uma realidade. “Sou uma mulher negra, e o tom da pele a gente não muda. Sofro preconceito até hoje, mesmo com o título. A universidade, assim como a sociedade, ainda reflete esse racismo”, disse.
Atualmente, Maria Alice coordena as ações da EJA em São Carlos e também atua em assentamentos como Santa Helena e Capão das Antas, além de ocupações no Antenor Garcia. “Hoje não estou em sala de aula, mas coordeno o trabalho. Ver essas pessoas acreditando que é possível mudar a vida por meio do estudo é gratificante e inspirador”, afirmou.
Ela destacou que o município conta com 32 núcleos de alfabetização do Programa Brasil Alfabetizado e do MOVA (Movimento de Alfabetização de Jovens e Adultos), que atendem pessoas em situação de vulnerabilidade social e até moradores de rua. Além disso, a Escola Municipal Austero Mangerona e diversas EMEBs (como Dalila Galli , Carmine Botta e Arthur Natalino) oferecem turmas do fundamental I e II.
“Aprender não tem idade”
Maria Alice fez um apelo aos adultos que ainda não sabem ler e escrever. “Nunca desistam dos seus sonhos. O sonho é o que move a vida. A idade não é barreira para aprender. Mesmo com 80 ou 100 anos, é possível estudar. O tempo vai passar de qualquer forma — que ele passe dentro da sala de aula”, disse emocionada.
Ela também lembrou que as matrículas para a EJA estão abertas e podem ser feitas na Secretaria Municipal de Educação (Rua 13 de Maio, 2000) ou na própria EMEJA Austero Mangerona (Rua 7 de Setembro, 1767). “Precisamos das pessoas para manter as salas abertas e ampliar o acesso à educação. Nossa meta é zerar o analfabetismo em São Carlos”, afirmou.
A professora também comentou o sucesso da 1ª Expo EJA Intermunicipal, realizada recentemente em São Carlos, que reuniu cerca de 380 participantes de quatro municípios — São Carlos, Itirapina, Limeira e Araraquara. O evento promoveu a troca de experiências e valorizou o protagonismo dos estudantes.
“Foi um momento de celebração e reconhecimento. Muitos alunos nunca haviam se visto nesse processo educativo. Para 2026, queremos ampliar o tempo da exposição e fortalecer o debate. A próxima edição deve acontecer em Limeira”, anunciou.
Educação como caminho para um mundo mais justo
Encerrando a entrevista, Maria Alice deixou uma mensagem de esperança. “A educação transforma. Se queremos um mundo mais justo e igualitário, que seja pelo caminho da educação. Que as pessoas acreditem no poder do conhecimento e nunca aceitem os ‘nãos’ da vida. Eles podem ser o impulso para grandes conquistas.”
A história da professora doutora Maria Alice Zacarias ecoa como um exemplo de coragem, resistência e amor pelo ensino — um testemunho de que o saber é, de fato, o maior instrumento de libertação.
Ouça a entrevista na íntegra:

















