
Fotos: CECOMSAER e Arquivo Pessoal
A esperança de uma nova vida nasce da solidariedade. Esse é o sentimento que guia o Dia Nacional da Doação de Órgãos, celebrado em 27 de setembro, data que simboliza amor ao próximo e a renovação de histórias. Para milhares de brasileiros que aguardam na fila por um transplante, cada doação representa a chance de recomeçar. Nesse processo, a Força Aérea Brasileira (FAB) desempenha papel decisivo, assegurando que órgãos, tecidos e equipes médicas cheguem com rapidez e segurança ao destino final.
Números que impressionam
Entre 2016 e setembro de 2025, a FAB realizou 1.988 missões de Transporte de Órgãos, Tecidos e Equipes (TOTEQ), somando 10.926 horas e 45 minutos de voo. Foram transportados 2.400 órgãos — sendo fígado (1.130) e coração (704) os mais frequentes, seguidos por rins (335), pulmões (136), pâncreas (45), baço (24), linfonodos (13), tecidos ósseos (9) e córneas (4).
Somente em 2025, a Força Aérea já transportou 196 órgãos, a partir de 175 solicitações, em mais de 1.140 horas de voo.
Em 2024, o Sexto Esquadrão de Transporte Aéreo (6º ETA) – Esquadrão Guará, de Brasília (DF), alcançou um marco histórico ao transportar o 2.000º órgão da FAB, numa missão que levou dois rins e um fígado. Atualmente, é a unidade aérea que mais realiza esse tipo de operação.
“O transporte de órgãos é uma das missões mais nobres da Força Aérea, porque significa salvar vidas e servir diretamente à população brasileira. É motivo de orgulho e reforça nosso compromisso com a saúde pública e o bem-estar da sociedade”, destacou o Tenente-Coronel Aviador Daniel Rodrigues Oliveira, comandante do 6º ETA.
Tecnologia a serviço da vida
Dentre as aeronaves utilizadas, o U-100 Phenom se destaca pela velocidade e eficiência, sendo o modelo mais empregado nas missões do 6º ETA. Com alcance de até 722 km/h e teto operacional de 12.500 metros, é considerado um dos mais ágeis no transporte de órgãos.
Outro protagonista é o C-97 Brasília, amplamente utilizado em todo o Brasil. Capaz de transportar cargas e passageiros em missões de até 32 mil pés de altitude, tornou-se essencial no apoio à saúde pública.
Histórias que emocionam
Aos 31 anos, Lorraine Cândida Lopes é exemplo vivo do impacto da doação de órgãos. Diagnosticada com insuficiência cardíaca aos 17 anos, ela enfrentou mais de uma década de limitações até receber, em fevereiro de 2024, um novo coração transportado pelo 6º ETA.
“Depois da cirurgia, consigo andar, me alimentar, tomar banho e até beber água sem restrições. A respiração muda, a qualidade de vida muda completamente. Só estou aqui porque uma família disse ‘sim’. A doação salva vidas e devolve esperança para quem já não acreditava mais que poderia viver”, relatou.
Estrutura legal e logística
As missões TOTEQ têm início quando a Central Nacional de Transplantes (CNT) identifica a disponibilidade de um órgão. Caso a logística comercial não seja suficiente, a FAB é acionada. O processo é amparado pelo Decreto nº 9.175/2017, que obriga a Força Aérea a manter aeronaves disponíveis para atender às demandas do Ministério da Saúde.
A coordenação envolve ainda o Comando de Operações Aeroespaciais (COMAE) e o Centro de Gerenciamento da Navegação Aérea (CGNA), que garantem a integração de rotas e a eficiência no transporte. Em menos de duas horas, equipes médicas podem ser deslocadas para realizar a coleta e salvar vidas.
Mais do que números, esperança
Cada voo representa não apenas a eficiência de uma operação militar, mas também o recomeço de uma vida. No Dia Nacional da Doação de Órgãos, a mensagem é clara: dizer “sim” à doação é multiplicar chances, renovar histórias e transformar a dor em solidariedade.