Representantes do movimento negro ocuparam, na tarde desta terça-feira (29), o plenário da Câmara Municipal de São Carlos para protestar contra o que classificam como falas racistas proferidas pelo vereador Moisés Lazarine (PL) durante a 35ª sessão ordinária, realizada na semana anterior. O ato reuniu lideranças de coletivos, ativistas e membros da comunidade negra do município, que pediram providências formais do Legislativo.
A militante Thulany Leite, que representou o movimento UNEGRO (União de Negras e Negros pela Igualdade) de São Carlos e o mandato da deputada estadual Tainara Faria (PT), afirmou que o grupo compareceu à Câmara para repudiar o discurso e exigir respeito. “Viemos dizer a ele que não pode sair disseminando inverdades. Ele perpetua falas racistas e machistas, sempre usando o nome de Deus em vão. Essa casa precisa de letramento racial, porque a arma tem cor — e essa cor é a dos nossos corpos negros que são mortos todos os dias”, declarou ela.
Thulany também defendeu que o Conselho de Ética da Câmara analise o caso. “Se o Conselho não tomar uma posição, continuaremos na luta. É preciso responsabilizar quem desrespeita a história e a dor da população negra”, completou.
O ativista Flávio Eduardo Felipe Júnior, também integrante do coletivo UNEGRO, reforçou a denúncia e destacou que o racismo está presente em diferentes espaços sociais. “O racismo não acontece só nas periferias. Eu, como homem cristão, posso afirmar que dentro das igrejas isso também é uma realidade. Política pública não é só para cristãos, é para todos”, afirmou.
Flávio também defendeu a atuação do Conselho de Ética e a responsabilidade dos parlamentares. “É obrigação dessa Casa investigar as falas. O que ocorreu foi, no mínimo, racista. A Câmara precisa dar uma resposta plausível à comunidade, porque isso não pode virar rotina”, disse.
Os representantes do movimento negro protocolaram um requerimento à presidência da Câmara, solicitando a análise do episódio e medidas cabíveis. O documento pede que a Mesa Diretora adote providências que reafirmem o compromisso da Casa com o respeito, a igualdade racial e o combate à discriminação.
A manifestação transcorreu de forma pacífica, mas com forte tom de indignação. O movimento promete acompanhar os próximos passos do Legislativo e voltar à Câmara caso não haja uma resposta institucional clara sobre o caso.
OUTRO LADO
Lazarine reagiu às críticas feitas pelo movimento UNEGRO. Em entrevista concedida após o ato, o parlamentar afirmou estar “muito tranquilo” em relação às suas declarações e acusou os manifestantes de distorcerem o contexto de sua fala por motivações políticas. “Estou muito tranquilo em relação à minha postura e ao mandato que a população me confiou. Cada um tem o direito de pensar o que quiser. Eu sou responsável pelo que falo, não pelo que as pessoas entendem”, declarou.
Ele ressaltou que possui histórico de atuação social em comunidades carentes, especialmente no distrito de Santa Eudóxia, e afirmou que o movimento tenta “usar uma causa nobre” para atacar seu mandato. “A luta contra o racismo é de todos nós, não apenas de um movimento. Nem toda a comunidade negra concorda com esse vitimismo e com essa tentativa de transformar o debate em palanque político”, disse.
O parlamentar afirmou ainda que o verdadeiro problema que atinge a população, independentemente da cor da pele, é a criminalidade, e que sua fala na tribuna foi “deturpada” para criar polêmica. “O verdadeiro genocídio é causado pela criminalidade. Seja branco, preto, homem ou mulher — o inimigo comum é o crime. Mas preferem criar narrativas para fomentar ódio e distorcer o que foi dito”, defendeu-se.
Moisés também sugeriu que as críticas seriam uma retaliação política motivada por um episódio anterior envolvendo uma denúncia de festa clandestina e uma moção de repúdio contra a Polícia Militar. “Tudo começou quando uma vereadora tentou aprovar uma moção de repúdio à PM. Eu me posicionei contra, e desde então, ela e seus aliados políticos têm articulado para jogar a comunidade negra contra mim”, finalizou.
O caso agora deve ser analisado pela Mesa Diretora da Câmara, que recebeu um requerimento do movimento negro solicitando a apuração das falas e eventual encaminhamento ao Conselho de Ética.


















