
A Prefeitura de São Carlos inicia, no próximo dia 3 de setembro, às 18h, na FESC, a primeira audiência pública para debater a revisão do Plano Diretor Estratégico, aprovado em 2016 e com vigência de dez anos. O processo, previsto no Estatuto da Cidade (Lei Federal nº 10.257/2001), deverá ser conduzido até 2025 com oficinas, debates temáticos e participação direta da sociedade.
Em entrevista ao jornal Primeira Página no Ar, na São Carlos FM, na manhã desta quarta-feira (27), o assessor especial do prefeito Netto Donato (PP), João Muller, e o coordenador do Grupo de Trabalho de Revisão do Plano Diretor, Agnaldo Spaziani Junior, explicaram que a revisão do Plano Diretor é um momento crucial para definir o futuro do desenvolvimento urbano do município. “O Plano Diretor é um instrumento jurídico que organiza a cidade para que ela cresça de forma sustentável, com qualidade de vida. Ele estabelece regras de ocupação, infraestrutura, índices urbanísticos, uso do solo e define os vetores de expansão”, destacou Muller.
Participação popular ampliada
Segundo os representantes da Prefeitura, São Carlos busca ampliar os mecanismos de participação social. Diferentemente das revisões anteriores, baseadas apenas em audiências públicas, desta vez o processo contará com seis eixos temáticos e a realização de oficinas comunitárias, inclusive em distritos como Santa Eudóxia e Água Vermelha.
Segundo Muller, os eixos definidos em conferência municipal incluem:
- Mobilidade urbana e infraestrutura (primeiro tema a ser debatido, em 3/9);
- Urbanismo e habitação de interesse social (24/9);
- Cidade inteligente;
- Uso e ocupação do solo;
- Meio ambiente e mudanças climáticas;
- Parcelamento e desenvolvimento urbano.
Vetores de crescimento e pressão imobiliária
Muller explicou que o atual vetor de expansão urbana está concentrado na Zona Oeste, áreas limítrofes a Ibaté, próximo a bairros como Santa Felícia, Embaré, Jockey Club, Varjão e em direção a Água Vermelha.
A região concentra grandes glebas pertencentes ao Grupo Águassanta, ligado ao Grupo Raízen, que possui cerca de 8 milhões de m² disponíveis, com potencial de 25 mil lotes. Parte das parcerias atuais inclui projetos habitacionais voltados para famílias de baixa renda, em faixas um, um e meio e dois, com unidades planejadas em modelo de casas individuais, e não apenas condomínios. “O prefeito Netto Donato determinou que, sempre que possível, os novos empreendimentos habitacionais populares sejam formados por casas, lado a lado, o que traz mais autonomia para as famílias”, explicou Muller.
Água, saneamento, escolas e saúde
Um dos principais desafios apontados pela população é o abastecimento de água na região. Muller informou que o SAAE já projeta a ampliação da capacidade de fornecimento de 9 milhões para 17,5 milhões de litros/dia, por meio da perfuração de novos poços (Corpal e Distrito Industrial), além da interligação com reservatórios existentes, como os do Ipanema e Faber-3.
No setor educacional, está prevista a ampliação da escola Homero Frei e a construção de uma nova creche e de uma escola de ensino fundamental na região oeste, financiadas por operação de crédito junto ao BNDES e à Caixa Econômica Federal.
Na saúde, a UPA do bairro seguirá como referência e uma nova unidade será implantada no Romeu Tortorelli, a apenas 300 metros do futuro empreendimento habitacional. A Prefeitura também promete ampliar áreas de lazer, implantar câmeras de segurança e iniciar obras de um “Parcão” para animais de estimação.
Mobilidade urbana em debate
Um dos pontos centrais da revisão será a mobilidade. O Plano de Mobilidade Urbana de São Carlos, elaborado pela Fundação Getúlio Vargas e em vigor desde 2024, identificou gargalos viários relacionados às rodovias que cortam o município (Washington Luís, SP-215 e outras), além da linha férrea que atravessa a área urbana.
Entre os projetos em andamento ou planejados estão:
- Duplicação do trecho entre Água Vermelha e São Carlos, integrando a SP-318;
- Implantação de dispositivos viários na SP-215;
- Obras de R$ 70 milhões para viaduto sobre a linha férrea, na região da Avenida Morumbi, com ligação ao Cruzeiro do Sul;
- Novas rotas para desafogar o trânsito na região do shopping e acesso mais rápido à USP.
O transporte coletivo também passará por mudanças. Muller falou sobre a contratação de especialistas para redesenhar as linhas de ônibus, utilizando pela primeira vez em São Carlos inteligência artificial para mapear em tempo real o fluxo de passageiros. “Hoje, as linhas seguem o modelo antigo, todas passando pelo centro. Precisamos adotar um sistema moderno, com terminais, integrações e uso de marginais. Isso vai reduzir o tempo de deslocamento e melhorar a vida de quem depende do transporte público”, disse o assessor.
Convite à população
Muller e Spaziani reforçaram que o processo de revisão será democrático e aberto. Todas as sugestões feitas nas audiências e oficinas serão analisadas por um grupo técnico. “Nosso Plano Diretor é bom, mas precisa ser atualizado à realidade atual. A cidade mudou e vai continuar mudando. Por isso é essencial que a população participe. A primeira audiência será no dia 3 de setembro, às 18h, na FESC. Queremos ouvir a sociedade para planejar São Carlos para os próximos dez anos”, concluiu Spaziani.
Ouça a entrevista de Muller e Spaziani na íntegra: