LUTO | Descanse em paz, amigo Carlão; que DEUS te receba de braços abertos

Conheci o Carlão quando eu ainda era criança. Todo início de ano escolar, meus pais levavam a mim e minha irmã, na Livraria do Carlão, que depois de adulto descobri que chamava-se Livraria e Papelaria Central.

Listas dos materiais escolares em mãos e lá íamos todos felizes. Começo de ano escolar era bom por isso, cheirinho de material novo. Não que não gostava da escola, mas comprar caderno, lápis, bolsa, estojo, enfim, novos, realmente, era a coisa mais gostosa do ano letivo.

As listas eram sempre entregues ao Carlão. Lembro que ele pegava uma calculadora e fazia as contas. “Paulo [meu pai], as duas listas vão ficar em tanto!”. Começava o chororô do meu pai e assim foi durante muito tempo.

Fui crescendo e conhecendo mais o ser humano que era o Carlão. Pessoa maravilhosa que estava sempre disposta a fazer o bem ao próximo, seja quem for e a hora que for. Ele tinha um negócio que sabia quem, realmente, precisava de ajuda! Coisa de Deus mesmo!

Claro que não poderia deixar de se lembrar dos Bingos e Roletas da Sorte – essa criada por ele (pelo menos aqui em Ibaté), nas Quermesses de Santo Antônio (Jardim Mariana) e de São Francisco de Assis (Jardim Icaraí), quando nosso pároco ainda era o Padre Carlos Alberto Giacone. Sempre ao lado da querida Dona Fátima.

E foram inúmeras quermesses que trabalhamos juntos. Aliás, foram nesses eventos que o Carlão me ensinou que não importa a classe social que a gente vive, temos sempre que oferecer ajuda e apoio ao próximo, ser solidário e estender a mão a quem precisa.

O Carlão era o tipo de pessoa que não tinha tempo ruim. Poderia estar com problemas pessoais, mas nunca deixava interferir na maneira como tratava as pessoas.

Mais anos se passaram e novamente estávamos juntos. Em 2006, o prefeito Zé Parrella fez o primeiro Rodeio de Ibaté da sua administração e o Carlão foi convidado para integrar a Comissão Organizadora.  Sempre foi um dos primeiros que chegava ao recinto e participava de todas as reuniões que eram realizadas para acertar os ajustes da festa.

Pude conhecê-lo ainda mais. Camisa amarela da Cristal ou camisa preta do Grupo KK, enfim, não importava o traje, ele estava sempre ali correndo e ajudando a revolver os problemas que a grandiosidade da festa do peão de Ibaté nos colocava. Realmente, trabalhava incansavelmente.

Ainda não caiu minha ficha, mas dizem que DEUS quer ao seu lado aqueles que já estão preparados para deixarem esse plano, afinal, é fato que a gente nasce pra viver e vive pra morrer. Acredito que o Carlão viveu exatamente pra isso e estava preparado para se despedir da gente.

Muitos não sabem, mas por muitos anos, o Carlão quem preparou a Capela de Nossa Senhora de Fátima para receber a multidão de fiéis no dia 13 de maio, lá no posto que leva o nome da santa.

O Carlão era apaixonado e devoto de Nossa Senhora de Fátima. Aliás, se casou com a Dona Fátima, com quem teve dois filhos maravilhosos: a Leny e o Lucas. Ah, e avô do Lucca. E como amava esse neto!

Sabe Carlão, fazendo um balanço da sua vida para escrever essa homenagem (aliás, singela homenagem), vejo que você cumpriu com sua missão. Trabalhador incansável, mostrou aos seus filhos o caminho certo que devem seguir, deu amor, carinho, afeto e estudo! Jamais desamparou a Dona Fátima e sua família. Acordava cedo pra viajar e trazer as novidades na Livraria Central e não se queixava por isso, pelo contrário.

Ah, ele tinha um defeito sim, como todos os seres humanos têm: era Palmeirense e Porco Roxo hein!!! Muitos vão dizer que era qualidade!!

Na quinta-feira passada, Deus me enviou até a Livraria para conversar contigo pela última vez e agradeço ao Nosso Pai Celestial por isso. Foi nossa última conversa, mas aprendi mais uma lição: não importa o problema que estamos passando, temos que seguir com fé, muita perseverança e felizes, pois é o fardo que DEUS nos dá para carregar. “Estou muito bem graças a DEUS. Caminhando porque minha médica puxou minha orelha. Viajei e engordei! Agora preciso perder uns quilinhos, mas já estou caminhando todo dia”, disse-me ele.

Mostrou fotos da chácara, antes e como está agora, e com muito orgulho disse que construiu o espaço que mais amava aqui na terra. Outra paixão era o seu carro. “Paulinho, ia trocar, comprar um mais novo, mas esse carro me atende no que preciso e gasta pouco combustível. Então vou arrumar o que precisa e ficar com ele!”.

Sabe Carlão, é essa imagem que vou guardar de você! Um cara do bem, católico, disposto a ajudar, enfim, desejo que DEUS o receba de braços abertos e que você tenha o merecido descanso. Não queríamos, mas a vontade de DEUS nem sempre é a nossa e agora temos que aceitar, não é e não será fácil, mas precisamos aceitar. Tenho a certeza de que já está sendo abraçado e recebido ai no céu, revendo grandes amigos e amigas, que partiram antes de você, pois não tinha e não tem quem não goste do Carlão da Livraria.

Que Deus conforte o coração da Dona Fátima, do Lucas, da Leny, da Rayane, do Lucca, enfim, de todos os seus familiares que ficaram aqui, sentindo a dor da separação e da saudade! E quantas saudades iremos sentir!

Descanse em paz querido amigo e irmão, Carlão!!

[Paulo Melo – Mtb 87176/SP]

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