
Foto e reportagem: Paulo Melo
Strano destacou medidas emergenciais para preservar empregos e apontou desafios estruturais que podem afetar o setor nos próximos meses.
A indústria metalúrgica de São Carlos e Ibaté, um dos polos mais importantes do interior paulista, vive dias de apreensão diante dos efeitos das tarifas impostas pelos Estados Unidos a produtos brasileiros e da desaceleração de encomendas. Em entrevista à rádio São Carlos FM, na manhã desta terça-feira (19), o presidente do Sindicato dos Metalúrgicos, Vanderlei Strano, destacou medidas emergenciais para preservação de empregos e apontou desafios estruturais que podem afetar o setor nos próximos meses.
A notícia mais imediata é a decisão da Tecumseh do Brasil de conceder férias coletivas a 350 trabalhadores, após o cancelamento de um pedido da matriz norte-americana. A medida, segundo Strano, foi negociada para evitar demissões em massa. “Não queremos demitir ninguém. A saída encontrada foi conceder férias coletivas de dez dias, mantendo os empregos. Preservar o trabalhador é a prioridade do sindicato”, disse.
Strano lembrou que os impactos das taxações impostas pelo governo Trump já haviam sido previstos, mas a situação se agravou com brechas nas regras de proteção de mercado. Empresas nacionais, como a Engemasa, que fornece produtos para a cadeia petroquímica, estariam perdendo espaço para concorrentes chineses.
Segundo ele, em reunião com a direção da Engemasa, ficou confirmado que houve 32 desligamentos entre janeiro e julho, parte deles em empresas terceirizadas. Apesar de não caracterizar uma demissão em massa, o sindicalista alertou para riscos futuros. “Se não houver uma ação conjunta com governo federal e municipal, os pedidos podem cair nos próximos meses. A Engemasa corre perigo real de retração”, alertou.
A multinacional Electrolux também foi alvo de críticas. A empresa havia anunciado a intenção de cortar 160 postos de trabalho e lançou um Plano de Demissão Voluntária (PDV) sem acordo com o sindicato. O resultado, segundo Strano, foi a adesão de 60 trabalhadores – número abaixo da meta – e posterior recuo da companhia, que hoje estaria inclusive reavaliando contratações. “A estratégia foi amedrontar os trabalhadores em plena negociação de data-base. Mas o tiro saiu pela culatra. Agora a empresa conversa e deve retomar contratações”, afirmou.
Data-base e condições de trabalho
O sindicato prepara para o próximo domingo (24) assembleia no Clube de Campo dos Metalúrgicos, em São Carlos, para votar propostas de data-base da Tecumseh e da Razek. Entre as reivindicações está a mudança definitiva da jornada de 6×1 para 5×2, evitando turnos noturnos exaustivos que começam no domingo e avançam até o sábado. “É cruel. O trabalhador perde convívio familiar e enfrenta riscos maiores de acidentes. Queremos mudar essa realidade”, defendeu Strano.
Em tom político, o dirigente sindical destacou que as medidas de taxação do presidente Donald Trump, dos Estados Unidos, afetam diretamente a indústria brasileira. “É claro que essas tarifas prejudicam nossa economia e nossos empregos. Não se trata de esquerda ou direita. É interesse nacional”, afirmou.
Strano destacou a necessidade de diálogo com todos os governos, citando parcerias recentes com a Prefeitura de São Carlos, administrada pelo prefeito Netto Donato (PP), e defendeu que o município atue na busca de soluções junto ao setor produtivo.
Paralelamente à preocupação com cortes, o Sindicato aponta outro desafio: a falta de profissionais especializados. Cursos técnicos do Senai, que antes eram disputados como vestibulares, hoje têm vagas ociosas. “As empresas reclamam de escassez de soldadores, mecânicos, eletricistas. Há empregos, mas falta gente qualificada”, lamentou Strano.
Ao final da entrevista, Strano também anunciou iniciativas culturais no clube do sindicato, como bailes, shows e eventos de flashback, numa tentativa de aproximar a entidade da comunidade.
A fala de Vanderlei Strano revela o cenário dual vivido por São Carlos: de um lado, riscos de retração em grandes indústrias globais como Tecumseh e Electrolux; de outro, empresas locais enfrentando gargalos por falta de mão de obra qualificada. O sindicalista adota um tom pragmático, buscando negociar saídas sem confronto direto, mas não poupou críticas a medidas externas que, em sua visão, fragilizam o mercado nacional.
Se confirmados os riscos apontados, os próximos meses serão decisivos para a manutenção dos cerca de 1,8 mil empregos diretos da Tecumseh e a estabilidade de todo o setor metalúrgico da região.
Confira a entrevista de Vanderlei Strano na íntegra: