A vereadora de São Carlos, Larissa Camargo (PCdoB), participou na manhã desta sexta-feira, 21, de uma extensa e esclarecedora entrevista no programa Primeira Página no Ar, da São Carlos FM 107.9, onde abordou temas centrais do seu mandato, o Dia da Consciência Negra, políticas públicas, desafios estruturais da cidade e a responsabilidade do poder público diante das demandas da população negra.
Logo no início, Larissa comentou sobre a III Marcha da Consciência Negra em São Carlos, realizada nesta quinta-feira (20), destacando que o evento se concentrou no debate sobre reparação histórica — tema discutido nacionalmente e que, segundo a parlamentar, precisa ser incorporado às políticas locais. A vereadora reforçou a fala da a chefe de sessão de Políticas para Promoção da Igualdade Racial, Carmelita Maria da Silva, entrevistada no dia 19, afirmando que o racismo velado ainda pauta relações sociais, profissionais e institucionais. “A cor da pele chega primeiro nos espaços”, disse, apontando situações recorrentes de subestimação e falta de respeito mesmo quando ocupava cargos de liderança.
Ao detalhar as ações do mandato, Larissa ressaltou a criação e o fortalecimento da Comissão de Direitos Humanos e Igualdade Racial na Câmara, além de uma articulação contínua com a Secretaria Municipal de Cidadania e com o governo federal para estruturar o Plano Municipal de Promoção da Igualdade Racial. A vereadora afirmou que São Carlos ainda não possui um órgão de gestão capaz de formular e executar políticas públicas voltadas à população negra e que a regulamentação do Fundo Municipal de Promoção da Igualdade Racial, hoje existente apenas no papel, é urgente para que a cidade receba recursos e implemente ações de impacto.
Durante a entrevista, a parlamentar criticou a falta de prioridade do governo municipal para a pauta racial e lembrou que a cidade enfrenta graves desafios sociais. Ela citou, por exemplo, os sete homicídios registrados em uma mesma semana, entre 2021 e 2022 — seis deles envolvendo jovens negros. Também destacou a carência de ações na educação, afirmando que, apesar do Selo Petronilha recém concedido ao município, muitas escolas ainda tratam a Lei 10.639/03 de forma facultativa. “Novembro é o mês mais intenso para nós, mas o combate ao racismo não pode se resumir a um calendário. A cidade precisa de ação permanente”, acrescentou.
Larissa também defendeu a descentralização da cultura e a ampliação do acesso nas periferias, lembrando que regiões como Cidade Aracy, Santa Felícia, Água Vermelha e Santa Eudóxia enfrentam dificuldades históricas para participar de eventos e projetos culturais, concentrados majoritariamente na área central. Além disso, apontou que os orçamentos das secretarias de Esportes e de Infância e Juventude são insuficientes para prevenir vulnerabilidades sociais por meio de políticas intersetoriais.
Nos minutos finais, a vereadora falou sobre eleições de 2026, afirmando que não pretende disputar cargos majoritários ou proporcionais neste momento, mas que seguirá apoiando parlamentares parceiros de São Carlos, como a deputada estadual Leci Brandão (PCdoB), que destinou mais de R$ 1 milhão ao município, e o deputado federal Orlando Silva (PCdoB), que viabilizou R$ 700 mil em recursos, incluindo R$ 200 mil para atendimento a crianças vítimas de violência sexual.
Larissa encerrou defendendo a aprovação da PEC 27/2023, que cria um fundo nacional de reparação de R$ 20 bilhões para municípios, e reforçou a necessidade de São Carlos regulamentar seu próprio fundo para estar apta a receber recursos. “Sem prioridade, sem investimento e sem planejamento, a cidade patina. A tecnologia precisa chegar às pessoas, não só ao discurso”, afirmou.
A entrevista, marcada por firmeza e clareza, reforçou o tom de responsabilidade e compromisso com o qual a vereadora tem conduzido seu mandato, consolidando-se como uma das principais vozes do movimento negro e da defesa dos direitos sociais em São Carlos.
Assista a entrevista na íntegra:

















