SÃO CARLOS | Por ter boa aparência, coletora de reciclagem ganha apelido de ‘Rainha da Sucata’

A manicure Eliana Pedreks de 29 anos é uma mulher comum. É casada, tem três filhos, tem o sonho de tirar a carteira de habilitação e comprar a casa própria. Porém para muitos a boa aparência de Eliana não combina com o segundo ofício. Com um carrinho de bebê ela percorre de segunda-feira a sábado as ruas do Jardim Santa Felícia em busca de reciclagem, serviço onde encontrou uma maneira limpa e honesta de ganhar a vida, mas que lhe deu o apelido de “Rainha da Sucata”.

“Estão vendo aí atrás de mim?”, escreveu Eliana nas redes sociais se referindo a vários big bags cheios de materiais recicláveis em sua retaguarda. “Então, você ri quando me vê pegando reciclagem. Entre ser dona de casa, manicure, mexer com cabelos, lavar, passar, cozinhar, ser esposa, mãe, amiga, eu ocupo meu tempo pegando reciclagem e tenho muito orgulho disso. A latinha que você jogou fora é com ela que vou encher o bolso. Podem me chamar de Rainha da Sucata, não importa o cargo, o importante é ser rainha”, desabafou. Após a publicação, a linha do tempo choveu de curtidas e comentários solidários à manicure.

Eliana trabalha seis dias na semana, em dois turnos. De manhã quando deixa os filhos na escola e à noite, entre 21h e 22h, antes do caminhão de coleta de lixo circular na região onde mora. O trabalho de coleta de reciclagem começou em 2014 com o irmão, Paulo César Pedro, ex-detento, que procurou na reciclagem uma maneira limpa e honesta de ganhar a vida. O trabalho, porém, tem incomodado moradores.

“A maioria das pessoas acha que tem o direito de rirem da gente pelo fato de trabalhar com ‘lixo’. Me apelidaram de a Rainha da Sucata pelo fato de eu ter boa aparência e trabalhar com reciclagem, sendo que na reciclagem você encontra muitas coisas boas que desapegam e eu transformo em valores”, disse Eliana.

Ela diz não se importar com o desdém. “Acredito que a maioria sofre preconceito pelo fato de se vestir de jeito mais simples e andar de boné, sapatão no pé, mas isso não me afeta, pois é uma maneira digna de ganhar a vida e fazer um bem pela cidade”, acrescentou.

Coletando reciclagem com o carrinho de bebê do filho, Eliana consegue ganhar todo final de semana em torno de R$ 300 e ajuda o marido, que é servente de pedreiro, na compra de leite, fralda e despesa.

Até momento ela já comprou um guarda-roupa para o filho e pretende realizar outros sonhos com dinheiro ganhado na reciclagem. “Tenho muito orgulho do meu trabalho e não vou parar. Tenho sonho de tirar carta, comprar minha casa própria – pois pago R$ 500 por mês – e dar um futuro melhor para meus filhos e eu vou conseguir nem que seja pegando reciclagem. O importante é ser feliz e fazer o que gosta.”

(Abner Amiel/Folha São Carlos e Região)

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