COVID-19 | Reitores de universidades públicas de SP debatem os desafios da pandemia

A pandemia de COVID-19 e o isolamento social colocaram um duplo desafio para as universidades públicas paulistas: exigiram que elas mobilizassem todos os recursos de pesquisa para responder a uma demanda urgente de saúde e, ao mesmo tempo, reorientassem a formação presencial de alunos para o ensino a distância.

Na Universidade de São Paulo (USP), cerca de 200 grupos de pesquisas de diversas áreas do conhecimento iniciaram estudos relacionados à doença, enquanto a instituição rapidamente redirecionava 90% das disciplinas para o ensino a distância, de acordo com o reitor Vahan Agopyan.

“Em duas semanas, passamos a oferecer quase todas as disciplinas remotamente, de aulas a estudo de caso. Na pesquisa, reuniram-se grupos que nunca tinham trabalhado juntos e laboratórios se uniram para fazer diagnósticos. Aprendemos a multidisciplinaridade”, afirmou em reportagem publicada pela Agência Fapesp.

Agopyan e os reitores de outras cinco universidade públicas estaduais e federais participaram nesta segunda-feira (15) do webinar “As crises de 2020 e a nova era em construção”, que inaugurou o 3º Fórum Desempenho Acadêmico e Comparações Internacionais, organizado no âmbito do projeto “Indicadores de desempenho nas universidades paulistas”, vinculado ao Programa Fapesp de Pesquisa em Políticas Públicas, da Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de São Paulo.

A programação do 3º Fórum prevê a realização de outros cinco seminários online até o dia 18 de junho.

Força-tarefa

Na Universidade Estadual de Campinas (Unicamp), a resposta também foi rápida: além de mobilizar uma força-tarefa para pesquisas e implementar aulas virtuais, a instituição organizou, em uma semana, a campanha Unicamp Solidária, que angariou entre parceiros mais de R$ 1 milhão a serem convertidos em cestas básicas e em tecnologias como, por exemplo, um aplicativo para a avaliação de vulnerabilidades sociais, contou o reitor Marcelo Knobel.

“A universidade pública estava sendo atacada e tínhamos que manter posição de defesa. A pandemia nos ofereceu a oportunidade de estreitar laços com a sociedade”, avaliou o reitor.

A Universidade Estadual de São Paulo (Unesp) também adotou o ensino remoto em suas 34 unidades e nos três centros administrativos espalhados por todo o estado, disse o reitor Sandro Valentini. “As universidades caminharão para o ensino híbrido no pós-pandemia”, previu.

A Universidade Federal do Estado de São Paulo (Unifesp), além de digitalizar suas atividades, criou um comitê de enfrentamento da pandemia e buscou convergir projetos de pesquisa para o enfrentamento da doença, de acordo com a reitora Soraya Soubhi Smaili. “Hoje temos 100 projetos de pesquisa voltados para o enfrentamento da COVID-19”, salientou.

A Universidade Federal de São Carlos (UFSCar) trocou as aulas presenciais por atividades remotas, criou um calendário suplementar para estágios de conclusão de curso e direcionou a pesquisa para atender aos desafios da doença. “Oferecemos à comunidade testes, produzimos protetores faciais, desenvolvemos projetos de respiradores, cartilhas e apoiamos grupos em isolamento e empresas em dificuldades”, elencou a reitora Wanda Machado Hoffmann.

Na Universidade Federal do ABC (UFABC), um dos desafios foi incluir parte dos alunos no programa de educação digital. “Mapeamos e estabelecemos auxílio emergencial para promover a inclusão digital”, afirmou o reitor Dácio Matheus.

‘Nova era’

Jacques Marcovitch, pesquisador responsável pelo projeto “Indicadores de desempenho nas universidades paulistas”, prevê que as crises de 2020 – sanitária, econômica, política e social – conduzirão o Brasil para uma “nova era”. “O imprevisível será parte de nosso futuro”, disse. Ele perguntou aos reitores como cada um deles vê a “nova era” em formação.

Knobel, da Unicamp, acredita que as ferramentas de comunicação online vieram para ficar. “Na questão educação, evoluiremos para o ensino híbrido”, enfatizou.

“Será impossível planejar o ensino sem incluir uma nova visão de formação de alunos”, disse Agopyan, da USP. “Como universidade de pesquisa temos obrigação de fazer o remoto em ambiente de pesquisa. Apesar da redução da mobilidade, a globalização continuará com muita ênfase.” Para Valentini, da Unesp, as instituições terão que ser “mais leves e ágeis”. “A mobilidade virtual será uma destas ferramentas”, pontuou.

A “conscientização do protagonismo da ciência e da tecnologia” será uma das lições para o futuro, disse Hoffmann. “Teremos que usar a tecnologia para melhorar a qualidade de vida e a sustentabilidade. A pandemia colocou a economia financeira sob o jugo da economia real e das leis da natureza”, completou Matheus, da UFABC.

Para Smaili, a contribuição da Unifesp para o futuro se traduz nas pesquisas clínicas que a universidade começa a realizar com duas vacinas contra a COVID-19, desenvolvidas pela Universidade de Oxford e pelo Instituto Nacional de Doenças Infecciosas da Itália.

“O Brasil não foi escolhido por acaso ou porque a pandemia aqui está em ascensão. Foi escolhido porque temos capacidade instalada para dar resposta à sociedade. Esta será a contribuição para a nova era”, disse.