REGIÃO | Manejo inadequado do solo prejudica rio Jacaré-Pepira, cenário do rafting mais famoso do Brasil

Instrutores fizeram protesto e Secretaria de Turismo mostra preocupação com ausência de boas técnicas para o cultivo de cana-de-açúcar

 

O Rio Jacaré-Pepira Mirim pede socorro. O rio ostenta o título de um dos mais limpos do estado de São Paulo, segundo relatórios da Companhia Ambiental do Estado de São Paulo (Cetesb), e é o protagonista da economia em Brotas, ancorada pelo turismo e agricultura. Todos os anos, milhares de pessoas praticam a atividade que faz do município uma referência em turismo de aventura, o rafting. Mas atualmente enfrenta um período de ameaça causada pelo manejo incorreto do solo em propriedades nas quais é cultivada a cana-de-açúcar, que abastece uma usina da região.

À procura de soluções para este problema, representantes do Poder Executivo e sociedade civil têm se mobilizado. A Prefeitura apresentou estudos de impacto ambiental e acionou a empresa na tentativa de obter uma resposta à altura da urgência do problema. Durante o carnaval, instrutores de rafting trajaram preto e foram às ruas da cidade em um protesto silencioso com faixas pedindo pela preservação da vida do Jacaré-Pepira.

Uma mobilização em massa da sociedade pede solução rápida para conter o carreamento de detritos das plantações. Estudos de impacto ambiental confirmam que o constante processo erosivo nas propriedades tem levado grande quantidade de lama para o rio quando chove, o que agrava o quadro de risco de assoreamento.

O estudo mostra ainda que as constantes enchentes somadas às práticas inadequadas de manejo de solo também oferecem o risco de soterramento de nascentes do Jacaré-Pepira.

Além de Brotas, outras cidades vizinhas que compõem a mesma bacia hidrográfica são afetadas. O estudo ambiental conclui que a empresa responsável pela área de plantio de cana-de-açúcar deve tomar medidas urgentes, a começar pela formação de curvas de nível no solo. A técnica é uma solução para a retenção do excesso de água da chuva e que permite a infiltração no solo. Sem este sistema, a energia do movimento da água carrega a superfície até o curso do rio.

“É urgente que sejam tomadas atitudes drásticas em relação a esta prática. A agricultura é um braço importante da economia de Brotas, mas acima de qualquer interesse econômico está o respeito ao meio ambiente e ao rio Jacaré, nosso principal patrimônio”, afirma Fabio Pontes, secretário de Turismo de Brotas.

Comitê

A Prefeitura criou em novembro do ano passado um comitê que reúne agentes públicos, iniciativa privada e sociedade civil com o foco de intensificar as ações de combate a práticas irregulares que coloquem em risco a preservação do rio Jacaré-Pepira Mirim. Diante dos recorrentes carreamentos de terra para o leito vindos desta propriedade, a Secretaria de Turismo busca interlocução com a usina na intensão de alertar sobre a necessidade urgente de executar o sistema de contenção na propriedade.

A história do turismo em Brotas, que em 2023 completa 30 anos, nasce da mobilização em massa da sociedade em defesa do seu maior patrimônio natural. Em 1993, diante de protestos, a população da cidade conseguiu impedir a instalação de um curtume que iria afetar severamente a qualidade das águas. Ao salvar o rio, iniciava também a movimentação no Jacaré-Pepira em atividades turísticas, ainda com o boia-cross. Pouco tempo depois, começava o rafting, hoje referência de Brotas para o Brasil e o mundo.