
Na manhã desta quinta-feira (25), a São Carlos FM [107,9] recebeu nos estúdios do programa Primeira Página no Ar o professor e ativista Gustavo Enrique, embaixador LGBTQIA+ no Estado de São Paulo. Durante a entrevista, Enrique compartilhou sua trajetória pessoal, marcada por violações de direitos na infância e adolescência, e destacou os desafios de atuar na defesa da diversidade em nível municipal, estadual e federal. “É extremamente difícil lutar por direitos humanos no Brasil. A cada passo que damos, nos tornamos alvos de críticas, perseguições e, em muitos casos, de violência letal”, afirmou o ativista, ressaltando que o país ainda lidera os índices de assassinatos contra pessoas LGBTQIA+ no mundo.
Natural do Mato Grosso do Sul, na fronteira com o Paraguai, Gustavo Enrique chegou a São Carlos há sete anos e iniciou sua atuação na educação popular. Trabalhou com pessoas em situação de rua em instituições como o Centro Pop e a Casa de Passagem, além de desenvolver projetos de alfabetização. Atualmente, leciona no SENAC, ministra palestras e mantém ativa participação em políticas públicas ligadas à diversidade.
Sua trajetória no movimento LGBTQIA+ local inclui a reativação do Conselho Municipal LGBT, onde foi conselheiro, vice-presidente e presidente. Enrique também representou São Carlos no 1º Encontro Nacional dos Conselhos de Direitos Humanos, em Brasília, e afirma que o caminho é árduo. “O preconceito começa dentro de casa. Por isso, precisamos de políticas públicas que deem suporte às pessoas em vulnerabilidade.”
O professor destacou que grande parte das conquistas no Brasil foram obtidas por decisões do STF [Supremo Tribunal Federal], mas que ainda falta efetividade nas ações municipais e estaduais. Ele celebrou a retomada da 4ª Conferência Nacional LGBT, prevista para este ano em Brasília, que discutirá a reconstrução do Plano Nacional de Políticas LGBT. “Sem políticas orgânicas e efetivas nos municípios, não conseguimos garantir dignidade às pessoas. Precisamos de casas de acolhimento com equipes multidisciplinares, empresas que abram portas para o emprego e secretarias que promovam letramento contínuo”, reforçou.
Durante a entrevista, os jornalistas Paulo Melo e Ivan Lucas destacaram a dificuldade de parte da sociedade em lidar com a terminologia correta ao se referir à comunidade LGBTQIA+. Enrique foi enfático: a falta de letramento é um dos principais entraves para a inclusão. “É preciso investir em formação continuada em escolas, empresas e instituições públicas. O primeiro passo é perguntar como a pessoa deseja ser chamada, respeitando sua identidade. Isso evita violências simbólicas e garante respeito”, explicou.
O ativista também sugeriu a realização de rodas de conversa com jornalistas e o uso de cartilhas já produzidas pelo governo estadual e federal para orientar profissionais da comunicação e evitar erros que podem caracterizar transfobia.
Um dos pontos mais críticos da entrevista foi a preocupação com a população em situação de rua, especialmente pessoas trans e LGBTQIA+. Enrique lembrou que São Carlos teve, em 2019, um levantamento com cerca de 400 pessoas em vulnerabilidade, número que pode ter chegado a 600 atualmente.
Ele ressaltou que o fechamento da Casa de Acolhimento pode ter agravado esse cenário. “Essas pessoas já estão nas ruas. Se não houver espaços de acolhimento, o ciclo de violência e exclusão contra as pessoas LGBTQIA+ continuará”, afirmou.
Ao ser questionado sobre a relevância da Parada LGBTQIA+, o ativista destacou que o evento não deve ser reduzido a um show, mas sim um ato político e pedagógico. “A Parada de São Paulo trouxe o debate sobre envelhecimento da população LGBT. Em São Carlos, precisamos discutir orçamento e políticas públicas”, defendeu.
Apesar das dificuldades, Enrique disse estar otimista com o atual governo municipal e destacou o diálogo aberto com a Secretaria de Cidadania, apontando avanços na reconstrução das políticas de diversidade.
Encerrando a entrevista, o professor deixou uma mensagem de esperança às pessoas LGBTQIA+. “Quem está passando por fome ou desemprego não deve perder a esperança. Eu já vivi isso, lutei e hoje tenho um trabalho digno. Contem comigo, porque o meu compromisso é sempre solidário e coletivo”, finalizou.
Ouça a entrevista do professor Gustavo Enrique abaixo: