A Prefeitura de São Carlos, por meio da Secretaria Municipal de Saúde, realizou na tarde desta quarta-feira (22/10), no auditório do Paço Municipal, uma roda de conversa sobre o luto materno e parental, tema ainda pouco debatido nas políticas públicas de saúde, mas que vem ganhando reconhecimento nacional. O encontro reuniu profissionais da área da saúde, representantes do poder público, especialistas e famílias enlutadas, em um momento de escuta, empatia e sensibilização.
Com depoimentos emocionantes, o evento buscou dar voz às mães e pais que enfrentam a dor da perda gestacional, fetal e neonatal, e ao mesmo tempo promover reflexões sobre como o sistema de saúde pode aprimorar o acolhimento e o cuidado humanizado nessas situações. “O silêncio que nos cerca é cruel. Precisamos ser vistos, ouvidos e respeitados. A dor da perda não desaparece, ela muda de lugar. E quando somos acolhidas, conseguimos respirar um pouco melhor”, relatou Ana Blanco Bianco, mãe de Caio, enlutada há oito meses.
A enfermeira Bruna Parreira, da Maternidade de São Carlos, destacou que o acolhimento começa com a sensibilidade no atendimento. “Não é apenas sobre protocolos, é sobre humanidade. O olhar, o tom de voz e a escuta ativa fazem toda a diferença para uma mãe em luto.” A discussão também abordou a Lei Federal nº 15.139/2025, que institui a Política Nacional de Humanização do Luto Materno e Parental, e o projeto de lei municipal de autoria da vereadora Raquel Auxiliadora, que adapta a política à realidade de São Carlos.

A advogada Indyara Soares Habitzreuter enfatizou a necessidade da regulamentação local: “A lei federal é um avanço, mas só se tornará real quando os municípios criarem seus próprios protocolos, redes de apoio e campanhas educativas. O acolhimento precisa ser uma prática contínua, não uma exceção.” Já o médico Ricardo Innecco de Castro, da Unimed São Carlos, reforçou que o tema deve ser tratado por toda a rede de saúde. “O luto não é exclusividade do SUS. É responsabilidade de todos os setores oferecer suporte psicológico e emocional às famílias.”
Segundo Camila de Oliveira Elias, articuladora da Saúde Materna da Secretaria, o desafio está na formação dos profissionais: “É preciso capacitar, acompanhar e sensibilizar. O acolhimento deve ser padronizado, mas também sensível.” O secretário municipal de Saúde, Leandro Pilha, reafirmou o compromisso da gestão em implementar a política. “A aprovação da lei é apenas o primeiro passo. Agora, nosso foco será integrar essa política ao SUS e garantir que nenhuma mãe passe por esse momento sozinha.”
Ao encerrar a roda, Ana Blanco deixou uma mensagem de força e empatia. “Que nenhuma mãe precise gritar para ser ouvida. Que o luto seja reconhecido, respeitado e acolhido. Porque o amor por nossos filhos não acaba com a perda — ele continua, e merece espaço.”
O encontro simbolizou um marco de conscientização e empatia em São Carlos, reforçando a importância de tratar o luto materno e parental como uma questão de saúde pública, de direitos humanos e de cuidado coletivo.




















