OPINIÃO | Então Louve! Irmão Lázaro, Pandemia e a Escatologia da Pessoa

Nesses quase dois anos de pandemia, surgiu um grande debate sobre a questão da vida. Imaginar que um dos elementos mais importantes de todas as religiões é o momento da morte. Ou melhor, o momento de desprendimento do mundo material para conexão permanente com o mundo imaterial. Esta série de fenômenos trouxe à tona esta questão: A Vida.

Enquanto espíritas, das mais variadas vertentes, trazem a ideia de que a morte é um processo de uma constante evolução, cristãos, também das diversas vertentes, trazem a ideia de que todo processo evolutivo acontece somente durante a vida e no momento da morte, inicia todo processo de ligação do tempo efêmero e finito, com a eternidade.

É cabível assim, a máxima levantada por Stalin de que, “uma única morte é uma tragédia, mas milhões de mortes, é uma estatística”.

São centenas de mortes todos os dias em um momento de pandemia com as diversas hipóteses de como lidar, mas que ninguém de fato, tem uma receita infalível para tudo isso.

Nesses dias, passando pela rede social, um vídeo me chama muito a atenção e comoveu muita gente. No vídeo, o Irmão Lázaro deitado em cima de uma maca e uma enfermeira realizando os procedimentos da enfermagem. O que comoveu a todos foi o fato de ela estar cantando uma música do universo religioso que ele, Lázaro, também fazia parte.

Nessa simples e comovente cena, tem muito mais do que um moribundo sobre a mesa, havia o sujeito que trazia o nome de um personagem da bíblia que Jesus ressuscitara depois de quatro dias já morto.

Pensar nestas duas cenas abre a discussão para dois aspectos, primeiro por que muita gente está lidando com a morte durante a pandemia, mas também que, na unidade do momento passado de Lázaro no hospital, levanta a questão escatológica do fenômeno da morte.

Sigamos por partes!

No aspecto chamado pela teologia de Escatologia, na maior parte das vezes, pessoas de diversos segmentos cristãos discorrem sobre esta área de conhecimento e fazem toda uma elaboração do discurso para falar da “Volta de Jesus”, da “Restauração da Terra” ou do “Arrebatamento das Pessoas”. Normalmente este é o aspecto mais falado, porém, para além desses aspectos, que também são interessantes e necessários, é de fundamental importância pensarmos na Escatologia da Pessoa.

Dentro da escatologia, pensar a Escatologia da Pessoa é lidar com o momento da passagem. Com a hora em que o moribundo está desvalido e não tem ninguém a quem recorrer a não ser, deixar chegar o momento da passagem. Muitas sensações são acometidas e muitos, por estarem sozinhos nesse momento de sofrimento, chegam a deixar e abandonar a Fé.

Dessa forma, no vídeo do Irmão Lázaro, somos levados a lembrar de Jesus que vai até seu amigo e o chama para fora e o mesmo, como no texto de João Cabral de Melo Netto, saltou para fora e para vida!

Somos assim convidados a, antes de pensar no Arrebatamento da Igreja, estarmos juntos no momento da morte para que o simples moribundo, seja uma Pessoa Humana que consiga fazer a passagem e se entregar nos braços da Eternidade e manter a Fé no Deus que sempre professou.

Num segundo momento, no ápice da curva da Pandemia (que nunca abaixa) onde o sujeito não tem ninguém da família e sozinho, tem que fazer esta passagem, somos levados a pensar:

Como lidar de forma pastoral com este fenômeno? Como conseguir estar do lado, mesmo que distante, de um sujeito a beira da morte? Como conseguir que ele mantenha a fé e aceite a passagem e ir ao encontro da Eternidade com Cristo?

Portanto, para além de respostas, mantemos esta pergunta e que ela possa provocar uma atitude pastoral na igreja do momento presente. Uma postura de buscar sempre lidar com a vida humana em unidade e consiga estar presente ao lado de todos aqueles que estão no momento da morte, e que o indivíduo no momento da morte consiga, como o Lázaro da Bíblia, sair com vida ao encontro do Cristo para uma Vida Eterna ao lado do Pai.

A letra da música que cantavam no leito da morte do Irmão Lázaro dizia que “nunca vi um justo sem resposta ou ficar em sofrimento… Basta somente esperar o que Deus tem pra fazer… Quando Ele estende a Sua mão, é a hora de vencer!” Neste trecho, somos provocados a ver o Mestre na porta do Túmulo chamando o Lázaro da Bíblia para fora e, agora, neste momento, a chamar o Irmão Lázaro para fora do túmulo da vida material, para o encontro da Vida Eterna e Espiritual. E nós, que estejamos do lados das pessoas no momento da morte e com força do Espírito para finalizar o processo dizendo ao moribundo:

“Então Louve!”
David Bruno Narcizo
Mestrando em Teologia.
Instituto Teológico
https://www.institutoteologico.org/