
Uma belíssima reportagem do G1 assinada por Ana Marin e Kalinka Bacacicci desnudou a novidade dos últimos dias que foi a adotada desde 25 de março pelo shopping Iguatemi de São Carlos: a proibição aos fins de semanas da entrada de adolescentes sem os pais ou responsáveis.
A medida é muito polêmica, porque existe de fato o direito de ir e vir, mas também muitos relatos de pessoas que foram importunadas por adolescentes que faziam as chamadas “barcas” no local. A adoção dessa proibição desnudará uma coisa: o Iguatemi tem ou não alta frequência de pessoas, pois se o número de gente cair aos finais de semana consideravelmente, ficará claro que quem enchia o shopping eram os jovens que o elegeram como ponto de divertimento. Contudo, a presença dessa garotada não significava compras, mas é neste ponto que o shopping também terá que se esforçar e assim passar a ser muito atrativo para famílias dispostas a se deslocarem até o empreendimento, pagar um preço salgado para estacionar e ainda comprar no Iguatemi.
Os relatos preocupantes de consumo de bebida alcoólica e balbúrdia não são novos no shopping e agora com a proibição provavelmente os garotos irão se deslocar para outro local, o que pode ser até a portaria do shopping, na portentosa praça que ali existe. O shopping lavou suas mãos, o ato que lembra Pilatos, pois estamos às portas da Semana Santa, é o que ele precisava fazer, afinal não tem obrigação de resolver essa questão, quem vai julgar o acerto ou erro é a sociedade. O problema dos adolescentes foi apenas transferido, eles estão carentes e o braço da chamada “vida perdida” é muito mais atraente do qualquer outra opção. É neste momento que temos que perguntar: onde estão os políticos de São Carlos? O que eles irão fazer? O que o prefeito achou da medida? O Secretário da Infância e Juventude? Está na hora das autoridades se pronunciarem sobre esse caso tão polêmico.
Relatos como o de um engenheiro que contou que teria sido humilhado pela segurança mostram o descompasso entre tentar acertar e acertar. Neste caso, se o shopping quer manter sua imagem empática (o que anda bem difícil) perante o público certamente terá que orientar melhor quem faz sua segurança, pois neste caso parece ser notório que perdeu clientes.
O Iguatemi tem suas razões para adotar a proibição e como bem foi colocado é um espaço privado onde se pode adotar as regras que se bem entender, contudo seria melhor também incrementar o empreendimento com lojas mais atrativas, pois hoje ele não tem nenhuma loja que vende roupas esportivas, como camisas de times de futebol, sem contar marcas como Colombo e Bunnys que não estão mais no mix.
Umas das reclamações também diz respeito ao tamanho da praça de alimentação e as mesas, coisas que podem ser pensadas para o futuro. Sobre a questão da proibição de menores sem os pais aos fins de semana, a polêmica está lançada, porque o Iguatemi não é o primeiro a adotar essa medida e nem será o último, mas reconhecidamente quando um centro de compras precisa fazer isso para privilegiar compradores é sinal de que o sistema educacional e as opções de lazer em São Carlos falharam e isso serve de alerta para a Prefeitura, pois a cidade anda paupérrima em oferecer diversão e entretenimento para os jovens, tanto que eles elegeram um shopping, um lugar que deveria ser um posto de serviços como point para sua diversão.
São Carlos vive num sono profundo com relação a questão da infância e juventude faz tempo, a medida adotada pelo Iguatemi é apenas a ponta do iceberg, num mar de mediocridade e falta de zelo pelos jovens, que apesar do clichê da frase, são o nosso futuro.
Renato Chimirri – jornalista, sociólogo formado pela Universidade Estadual Paulista (UNESP) com passagens por jornais como A Tribuna, Primeira Página, A Notícia, Diário Regional (todos de São Carlos), Tribuna Impressa (Araraquara), Diário Lance!, Ex Libris Comunicação, Rádio Clube e Rádio São Carlos. Atualmente é diretor e editor do portal de notícias São Carlos em Rede. |
Só gostaria que, como é comum, tudo não acabasse recaindo sobre a Educação, ou melhor, a Escola. Não é obrigação da escola ensinar a se comportar em lugares públicos. Não é obrigação da cidade também, diga-se os governantes, ensinar isso. Se eles não cometessem atos de vandalismo e desrespeito explícito, talvez essa medida não tivesse que ser tomada.